Sobre Síndrome de Ovários Poliquísticos
Há uns dias gravei um episódio para o meu podcast, onde falei sobre o síndrome de ovários poliquísticos. Acontece que acho este assunto tão pessoal e tão importante que achei, de facto, uma boa ideia escrever sobre o mesmo e partilhar mais aqui, para quem não acompanha o podcast.
![](https://static.wixstatic.com/media/bc352b_00fbc3d24c9149e1919563340fddc85d~mv2.jpg/v1/fill/w_443,h_371,al_c,q_80,enc_auto/bc352b_00fbc3d24c9149e1919563340fddc85d~mv2.jpg)
Quero começar por falar um pouco sobre a minha história/experiência para, também, dar um bocado de contexto a tudo o que se seguirá.
Eu costumo dizer que esta minha história tem duas fases: 2016 e depois de 2019. Sendo que esta última também acaba por se subdividir.
Foi, então, em 2016 que eu descobri que tinha esta doença. No entanto acontecera o que acontece a todas as mulheres que a têm (que é mais comum do que podemos imaginar), a dita doença estava adormecida e foi, então, controlada com uma pílula.
O que realmente mudou a minha vida foi o que aconteceu em 2019 e se alastrou até aos dias de hoje.
2019
Estávamos nos finais de novembro quando eu comecei a sentir mudanças a acontecer no meu corpo. Quando comecei a ver coisas a acontecerem diante dos meus olhos, todos os dias. Inicialmente eu não sabia o que poderia ser. Como poderia eu saber? Por isso fiz o que foi mais fácil. Culpei-me e deixei que me dissessem que, de facto, a culpa era minha. Culpava-me mais por dar ouvidos às pessoas que estavam ao meu lado e me diziam que essa tinha que ser a minha verdade. Culpava-me porque ouvia e seguia uma cultura de dieta que, felizmente, descobri que é das coisas mais tóxicas que eu poderia ter seguido e, infelizmente ter começado a seguir com apenas 7 anos. Culpava-me porque toda a gente tinha uma opinião sobre a minha verdade. No entanto, a minha intuição nunca me falhou e eu sabia que a minha verdade era diferente, sabia que havia mais do que o que me diziam. Sabia que algo não estava bem.
2020 - 2022
O período entre 2020 e 2022 foi um dos períodos mais desafiantes que vivi. Eu via o meu mundo e o mundo lá fora, ambos, a caírem aos poucos. Estávamos no pique da pandemia e isso também não ajudou em nada em todo o processo.
Eu continuava a ver as mudanças a acontecer dentro e fora de mim. Eu já não me conseguia olhar ao espelho, eu já não me reconhecia.
Se me pedissem para resumir este período de tempo eu conseguia fazê-lo da seguinte forma: procura de médicos e perda de autoestima.
A verdade é que 2020 e 2021 foram dois anos em que saltava de médico em médico. Eu estava desesperada. Eu queria respostas. Eu queria que alguém me desse essas respostas. Não as consegui facilmente.
O facto de estarmos perante uma pandemia só fez com que alguns dos profissionais aos quais recorri me questionassem se não terá sido por estarmos a enfrentar "tempos difíceis". Infelizmente era mais fácil apontarem-me o dedo e questionarem o que eu comia e quanto exercício eu fazia do que questionarem se, realmente, não estaria a acontecer algo. Foram muitos os que, de facto, tentaram ajudar mas simplesmente não conseguiram chegar à resposta. Foram, infelizmente, muitos aqueles que também se recusaram a ajudar.
2022
Felizmente toda a procura por médicos e respostas chegou ao fim no início de 2022. Posso dizer-vos que a minha intuição nunca me falhou e que, de facto, algo estava a acontecer em frente dos meus olhos.
Hoje, enquanto vos escrevo isto, já estou a fazer um tratamento para me ajudar com a PCOs em estado demasiado avançado. Hoje sou grata pela equipa de médicas que me estão a acompanhar e me deram força para continuar. Elas não sabem mas o facto de me dizerem que, de facto, eu tinha e tenho algo foi como se me dissessem "tu tinhas razão, tu não estás louca" e isso deu-me a força que eu precisava para continuar.
Muito resumida, esta é um pouco da minha história com a doença. Recomendo muito irem ouvir o episódio do podcast porque ouvirem-me a falar do assunto será uma experiência totalmente diferente e acabo por dizer coisas que aqui não foram abordadas.
Sintomas da PCOS
ciclos menstruais irregulares
menstruação com fluxo intenso ou pouco fluxo
pelos novos ou em excesso crescendo na face ou no corpo
cabelo ralo na cabeça
problemas de pele: pele oleosa, acne, marcas escuras na parte de trás da nuca
resistência à insulina
ganho de peso, especialmente em torno do abdómen
dificuldade para engravidar
depressão e ansiedade
PCOS e saúde mental
Como mencionei há pouco, eu vi coisas a mudarem dentro e fora de mim. E quando achámos que as mudanças exteriores são más, temos todo um mundo interno a ser abalado com o passar dos dias. A verdade é que eu vi tudo a mudar e a minha autoestima a desaparecer. Conforme ela ia desaparecendo eu via-me obrigada a lidar com várias questões mentais (muitas vezes com o dobro do peso).
Porque, o que é que acontece quando doenças mentais já faziam parte da nossa rotina? Desde muito nova que me vi obrigada a saber que a minha realidade era diferente do resto das crianças. Desde muito cedo que sei a noção do que é saúde mental e de como a temos de prevenir. Desde cedo que "ansiedade" e "depressão" fazem parte dos meus prognósticos. Nunca é fácil lidar com coisas deste género quando não temos o devido apoio e mais difícil se torna quando estamos perante um desequilibrio hormonal. Simplificando, o que aconteceu foi que todas as questões de saúde mental já existentes acabaram por ser intensificadas. Isso, a médio prazo acabou por trazer uma instabilidade enorme porque com a PCOs vêm também várias mudanças de humor.
Por fim gostava de relembrar que a PCOs aparece diferente em todas as mulheres. Se achas que algo de errado está a acontecer, procura ajuda de um/a profissional. E para quem tem esta doença e viu o seu corpo a mudar, gostava de vos lembrar de que não estão sozinhas. Com esta partilha de histórias torna-se mais fácil, todas juntas.
Ouve o episódio do podcast aqui!
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