O que dirias à tua versão passada?
Por vezes gosto de me sentar e escrever sobre temas em específico. No dia em que escrevi isto, o tema era o que é que eu diria ao meu eu do passado ou, noutras palavras, à jovem Jéssica (ou à ainda mais jovem, a criança).
Quando somos crianças idealizamos algo totalmente surreal para a nossa vida ou, em alguns casos não idealizamos nada. Por incrível que possa parecer, eu tive ambas as fases. Quando criança a dança era o que eu ambicionava, gostava de ter feito ballet. Passado uns anos, surgiu o gosto por cantar mesmo sabendo que não era a minha praia. Resumindo e olhando para trás, consigo ver o padrão de uma criança que queria fazer algo relacionado às artes. Quando cresci, ao entrar na adolescência deixei esses objetivos de lado. Na verdade, deixei qualquer objetivo de lado o que acaba por ser estranho porque sou uma pessoa que se move em consequência de ficar, cada dia, mais perto de atingir os seus objetivos. Essa minha fase foi um pouco estranha, não minto. Mas sei que não tinha objetivos ou que não os fazia porque não acreditava que teria pelo que lutar, não acreditava que ficaria cá muito mais tempo e, por isso, esses ditos objetivos seriam uma perca de tempo.
No entanto, se eu pudesse dizer algo a essa criança, ou até mesmo à adolescente sem esperança, acho que lhe diria isto:
Se tu pudesses ver onde chegamos estarias tão orgulhosa de ti. Pelo menos é o que eu penso, é o que eu acho.
Ainda vais passar por muito. Até eu tenho noção que ainda vou passar por tanto quanto tu. De vez em quando ainda falo contigo, gosto de manter contacto contigo, comigo. Apenas para me certificar que a nossa criança interior está bem. Curada. Feliz. Protegida.
Creio que toda esta vontade de te dar a conhecer a tua versão atual, passados tantos anos, serve para te dar a certeza de que tudo acaba por acalmar. Em grande parte. Toda a preocupação para com o saber se a nossa criança interior está feliz deve-se, também, ao facto de saber que um dia a pusemos em perigo. Muito perigo. Nem sempre fomos a melhor pessoa para ela e ela não era, de todo, a pessoa que devia sofrer com isso.
Acabo, também, por te dizer para levares as coisas com calma. Eu sei, parece sufocante não ter controlo do mundo. Tens que aprender a lidar com isso. E vais, pelo menos tentar. Mantem na cabeça de que tu és a personagem principal da tua história e, consequentemente, só terás controlo sob esse mundo. Sei que às vezes se pode tornar sufocante o efeito que as pessoas têm na tua vida , ou o efeito das ações delas mas isso apenas irá determinar o carácter delas e o efeito delas na nossa vida, apenas será determinado pela importância que nós lhe daremos.
Enfim, há tanto que eu te queria dizer para ajudar a curar toda a dor e sarar toda a ferida não cicatrizada da nossa criança interior. Mas sei que esse trabalho não é feito em 10 minutos. Muito pelo contrário, é algo que demora e algo que exige ser contínuo.
Mas se há algo que eu te garanto é que tudo irá melhorar e que tu ainda tens tempo. Ainda tens tanto tempo.
E vocês? O que diriam a uma versão passada vossa?
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